O Senhor é meu pastor: nada me faltará. (Salmo 23:1)
O mundo dos sonhos seria aquele onde não haveria problemas, nem barreiras para a felicidade.
Como seria cômodo se todas as decisões que tomássemos fossem acertadas; se não faltasse dinheiro; se nossos filhos fizessem somente o que gostaríamos que fizessem; se não caíssemos na tentação de abraçar o mundo com as mãos. Muitos imaginam viver num mundo desses, eu também, ou melhor, imaginei. Aos poucos a vida foi me moldando e eu me adaptando à realidade. Percebi que as minhas expectativas eram irreais.
Ao observar alguns jovens, percebo que temos uma geração bem mais preparada, mas sem o pé no chão. São jovens cheios de habilidades, mas que não sabem lidar com perdas e frustrações. São capazes de usar em seu favor as ferramentas de última tecnologia, por isso desprezam o esforço. Foram ensinados a acreditar que nasceram carimbados para serem felizes. E quando não são, sofrem.
São pessoas que estudaram em colégios de primeira categoria, são fluentes em várias línguas, viajam pelo mundo afora e têm acesso a todo tipo de cultura e tecnologia. São pessoas que têm muito mais do que tiveram seus pais. Cresceram com a ilusão de que a vida é fácil, ou que tudo se consegue na maior moleza, porque são gênios.
Alguns desses jovens chegam ao mercado de trabalho achando que encontrarão um lar, onde o chefe seria um pai ou uma mãe que concede e permite tudo. Foram ensinados a pensar que merecem tudo que querem, pois lhes disseram que “querer é poder”. Quando não lhes concedem o que acham que merecem, muitos se sentem traídos, revoltam-se com a “injustiça”, emburram e desistem. Não sabem que o “mundo é dos corajosos” e dos insistentes.
Esses estreantes da vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo que pediram, sem nenhum esforço. Agora, desconhecem que a vida é uma grande casa em construção. Não lhes disseram que para se conquistar um espaço no mercado de trabalho, é preciso ralar muito; que gritar e espernear não os levará ao sucesso. Como seus pais não lhes disseram isso, o mundo os diz com muita frieza.
Há uma ilusão de que a felicidade é uma peça obrigatória na engrenagem da vida. Muitos se sacrificam para garantir que os filhos sejam “felizes”. Fazem malabarismos para dar o que pedem; e o que não pedem. Fazem de tudo para protegê-los. Não há responsabilização, nem limitação, nem reciprocidade. É como se os pais se sentissem eternamente devedores dos filhos. Para eles, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Já para os filhos, o futuro deveria obrigatoriamente estar garantido pelos pais. Ambos, pais e filhos, têm pagado caro por crerem nessa falácia.
É importante compreender que a frustração, o esforço e o limite fazem parte do processo educativo. São premissas básicas da vida. Após uma queda, é preciso bater a poeira, se recompor e seguir em frente. É importante ter em mente que Deus garante o futuro. Sim, ele garante, mas naquilo que é essencial.
O verso do Salmo 23 tem sido erroneamente citado para encorajar as pessoas que desejam mais do que o necessário, apesar de sempre receberem do Senhor a satisfação de suas necessidades básicas. Essas pessoas raciocinam que, se o Senhor não deixa faltar nada, então não há limite para tudo. Assim, sempre querem mais.
O Senhor não é nosso servo, pelo contrário. Ele é amoroso, mas sábio e equilibrado. Há coisas que parecem boas, no início. Com o tempo e a experiência, elas vão revelando o lado perverso. E é exatamente dessas coisas que o Senhor se ocupa em nos libertar.
Pelo contexto da Palavra de Deus, o “nada nos faltará” não inclui o supérfluo, as necessidades desnecessárias, aquelas que o próprio homem criou e continua criando. O Senhor conhece perfeitamente nossas necessidades essenciais. A satisfação delas está garantida. Essa foi a experiência do Rei Davi e deve ser a nossa.
Vamos cair na real e preparar nossos filhos para isso. Que o Espírito Santo possa iluminar a nossa mente para corretamente entendermos a Palavra de Deus. Que as bênçãos celestiais sejam derramadas sobre nossas famílias, em nome de Jesus Cristo. Amém!
Por Elbem César
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