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Com carinho, Renata :)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O campo de abacaxis

Esta é uma história verídica.

A história do campo de abacaxis aconteceu na Nova Guiné. Ela durou sete anos. É uma ilustração profunda de um princípio bíblico básico aplicado. Ao ler este relato original, você descobrirá que ele é um exemplo clássico do tipo de lutas que cada um de nós enfrenta, até que aprenda a aplicar o princípio de renúncia aos direitos pessoais.

Minha família e eu trabalhamos com pessoas bem no meio da selva. Um dia, resolvi levar para aquela região alguns abacaxis. O povo já tinha ouvido falar de abacaxis. Alguns já os haviam provado, mas não tinham meios de consegui-los. Busquei, então, mais de cem mudas de uma outra missão. Contratei um homem da aldeia e ele plantou todas as mudas. Eu o paguei pelo serviço prestado (com sal e diversas outras coisas de que necessitava) e durante dias ele trabalhou. Precisei ter muita paciência até que as pequenas mudas de abacaxi se tornassem arbustos grandes e produzissem as frutas. Demorou uns três anos.

Lá no meio da selva, você às vezes tem saudade de comer frutas. Não é fácil conseguir frutas e verduras frescas. Finalmente, no terceiro ano, pudemos ver surgir abacaxis que davam "água na boca", e só estávamos esperando o Natal chegar, porque é nesta época que eles ficam maduros. No dia de Natal, minha esposa e eu saímos ansiosos para ver se algum abacaxi já estava pronto para ser tirado do pé, mas tivemos uma surpresa desagradável após a outra. Não conseguimos colher nem um só abacaxi. Os nativos haviam roubado todos! Eles os roubavam antes de ficarem maduros. É costume deles roubar as frutas antes que amadureçam e assim o dono não as possa colher.

E aqui estou eu, um missionário, ficando com raiva dessas pessoas. Missionários não devem ficar com raiva, vocês todos sabem disso, mas eu fiquei e disse a eles: - Rapazes, eu esperei três anos por esses abacaxis. Não consegui colher um único deles. Agora outros estão amadurecendo e, se desaparecer mais um só destes abacaxis, fecharei a minha clínica.

Minha esposa dirigia a clínica. Ela dava gratuitamente todos os remédios àquela gente. Eles não pagavam nada! Nós estávamos nos desgastando, tentando ajudá-los, cuidando de seus doentes e salvando as vidas de suas crianças. Os abacaxis ficaram maduros e, um por um, foram todos roubados! Então achei que deveria me defender deles.

Eu simplesmente não podia deixar que fizessem comigo o que queriam... Mas a verdadeira razão não era essa. Eu era uma pessoa muito egoísta, que queria comer abacaxis. Fechei a clínica. As crianças começaram a adoecer porque a vida era bastante difícil naquela região.

Vinham até nós pessoas com gripe, tossindo, pedindo remédio e nós dizíamos: - Não! “Lembrem-se que vocês roubaram nossos abacaxis”. - Não fui eu! - eles respondiam - foram os outros que fizeram isso. E continuavam tossindo e pedindo.

Não conseguimos manter mais a nossa posição; reabrimos a clínica. Abrimos a clínica e eles continuaram roubando nossos abacaxis. Fiquei novamente louco raiva e resolvi fechar o armazém. No armazém eles compravam fósforos, sal, anzóis, etc. Antes eles não tinham essas coisas, por isso não iriam morrer sem elas, pensei.

Comuniquei minha decisão: - Vou fechar o armazém, vocês roubaram mais abacaxis. Fechamos o armazém e eles começaram a resmungar: - Vamos nos mudar daqui porque não temos mais sal. Se não há mais armazém, não há vantagem para ficarmos aqui com esse homem. Podemos voltar para nossas casas na selva - e se mudaram para a selva.

E ali estava eu, sentado, comendo abacaxis, mas sem pessoas na aldeia, sem ministério, sem condições de aprender a língua para traduzir a Bíblia para eles. Falei com minha esposa: - Podemos comer abacaxis nos Estados Unidos, se é só o que temos para fazer aqui. Um dos nativos passou por ali, e eu lhe pedi para avisar que, na segunda-feira, abriria novamente o armazém. Pensei e pensei em como resolver o caso dos abacaxis...

- Meu Deus! Deve haver um jeito. O que posso fazer?

Chegou o tempo de minha licença e eu aproveitei para ir a um Curso Intensivo para Jovens. Lá ouvi que deveríamos entregar tudo a Deus. A Bíblia diz que, se você der, você terá; se quiser guardar para si, perderá tudo.

- Dê todas as suas coisas a Deus e Ele zelará para que você tenha o suficiente. Este é um princípio básico. Pensei o seguinte: amigo, você não tem nada a perder. Vou entregar o caso dos abacaxis a Deus... Eu sabia que não seria fácil fazer esse sacrifício! Sacrificar significa entregar gratuitamente algo de que você gosta muito, mas eu decidi dar a plantação de abacaxis a Deus e ver o que Ele faria. Assim, saí para a plantação a noite, e orei:

- Pai, o Senhor está vendo estes pés de abacaxis? Eu lutei muito para colher alguns. Discuti com os nativos, exigi meus direitos. Fiz tudo errado, estou compreendendo agora. Reconheço o meu erro, e quero entregar tudo ao Senhor. De agora em diante, se o Senhor quiser me deixar comer algum abacaxi, eu aceito; caso contrário, tudo bem, não tem problema.

Assim, eu dei os abacaxis a Deus e os nativos continuaram roubando as frutas como de costume. Pensei com meus botões: - Deus não pôde controlá-los.

Então, um dia, eles vieram falar comigo: - Tu-uan (que significa estrangeiro), o senhor se tornou cristão, não é verdade?

Eu estava pronto para dizer: - Escute aqui, eu sou cristão há vinte anos! - mas, em vez disso, eu perguntei: - Por que vocês estão perguntando isso?

- Porque o senhor não fica mais com raiva quando roubamos seus abacaxis, eles responderam.

Isso me abriu os olhos. Eu finalmente estava vivendo o que estivera pregando a eles. Eu lhes tinha dito que amassem uns aos outros, que fossem gentis, mas sempre exigia os meus direitos e eles sabiam disso.

Depois de algum tempo alguém perguntou: Por que o senhor não fica mais com raiva?

- “Eu passei a plantação adiante”, respondi, ela não pertence mais a mim, por isso vocês não estão mais roubando os meus abacaxis e eu não tenho motivos para ficar com raiva.

Um deles, arriscando, perguntou: - “Para quem o senhor deu a plantação?” Então eu disse: - “Dei a plantação para Deus”.

- Para Deus? - exclamaram todos. Ele não tem abacaxis onde mora!?

- Eu não sei se ele tem ou não abacaxis onde mora, respondi. Eu simplesmente lhe dei os meus abacaxis.

Eles voltaram para a aldeia e disseram para todos: - Vocês sabem de quem estamos roubando os abacaxis? Tu-uam os deu a Deus.

Começaram a pensar sobre o assunto e combinaram entre eles: - Se os abacaxis são de Deus, agora não devemos mais roubá-los.

Eles tinham medo de Deus e os abacaxis novamente começaram a amadurecer. Os nativos vieram para me avisar: - Tu-uan, seus abacaxis estão maduros.

- Não são meus, eles pertencem a Deus - respondi.

- É melhor o senhor comer, pois senão eles vão apodrecer.

Então colhi alguns, e deixei também uns para os nativos. Quando me sentei à mesa com minha família para comê-los, eu orei: - Senhor, estamos comendo Seus abacaxis, muito obrigado por me dar alguns.

Durante todos os anos em que estive com os nativos, eles estiveram me observando e prestando atenção às minhas palavras. Eles viam que as duas coisas não combinavam. E, quando eu comecei a mudar, eles também mudaram. Em pouco tempo, muitos se tornaram cristãos.

O princípio da entrega a Deus estava funcionando realmente. Eu quase não acreditei...

“E mais tarde, passei a entregar outras coisas para Deus”.

Texto extraído do livro “A verdadeira felicidade – estudo sobre as bem-aventuranças”, de Jaime Kemp, editora Sepal.

“Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará (Sl 37:5)”

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